No último dia 01, o
inglês, ex-baixista do Pink Floyd, fundador da banda, guitarrista,
letrista, vocalista e compositor Roger Waters, orquestrou um dos
maiores espetáculos musicais na terra: o show “The Wall – Live”,
no estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi), localizado na capital
paulista.
Para quem está mais
familiarizado sabe que Roger Waters se separou do Pink Floyd em 1985
para seguir carreira solo, e é o detentor dos direitos autorais do
álbum The Wall, dentre outros álbuns conceituais da banda (The Dark
Side of The Moon, Wish You Were Here e Animals).
Desde 2010 a turnê
“The Wall – Live”, realiza um dos mais contemplativos shows de
rock do mundo, apresentando o álbum na íntegra com efeitos visuais,
sonoros e pirotécnicos.
Waters além de ser um
músico altamente perfeccionista, é um ativista nas causas sociais,
políticas e ambientalistas; se aprofunda no regimento político,
religioso e militar de cada país antes de suas apresentações, e de
maneira artística, o músico não se preocupa somente com a
perfeição musical de cada apresentação, mas de show para show, de
país em país, ressalta os problemas que cada nação vem
enfrentando atualmente em termos sociais.
Os presentes neste show
do último domingo tiveram a consciência das dimensões deste evento
assim que se dirigiam ao estádio, ainda à caminho, a cidade parecia
ter sido tomada por apreciadores do rock de diversas parte do Brasil e da
América Latina, ouviam-se sotaques e idiomas diferentes, viam-se
filas de van de excursão com placas de diversos estados, em cada
ponto de ônibus, em cada estação de metrô, notava-se a ansiedade
nos rostos de pessoas com camisetas, bandanas e bandeiras da banda
Pink Floyd ou do álbum The Wall.
Ao nos aproximarmos do
arredores do estádio, constatamos as proporções do evento, filas
enormes, milhares e milhares de pessoas à perder de vista,
com segurança, organização e uma infraestrutura impecáveis, assim que
adentramos na pista 3 horas antes do show, as arquibancadas já
estavam praticamente lotadas, e até a hora do início do show, que
estava marcado para as 19:30h, não se via mais área desocupada, o
estádio lotou com 70 mil cabeças!
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Público da arquibancada, foto antes do show. |
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Contemplar aquele palco
enorme durante todo o tempo de espera, contados minutos a minuto, nos
levava a um estado de êxtase ao imaginar o que viria pela frente. Ai
você que não pôde comparecer ao show, como forma de consolo talvez
esteja pensando “deve ter sido igual ao DVD”, mas meu amigo, eu
devo lhe dizer, foi MUITO melhor.
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Palco, antes do show. |
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A banda subiu ao palco
com somente 15 minutos de atraso, e o show se iniciou após a réplica
de um avião de guerra se chocar com o dantesco muro de 137 metros de
largura, construído de arquibancada à arquibancada, que provocou
uma explosão no palco e após um amostra de fogos de artifício
saídos de cima do palco, se inicia a apresentação da banda com a
música
In The Flesh?, seguida de
The Thin Ice e
Another
Brick In The Wall pt. I
o público delirou, dos mais marmanjos às mais ensandecidas fãs,
notei algumas lágrimas, eu mesma, não contive algumas, tamanha era
a emoção. E meu amigo, se eu tentar encontrar no dicionário as
palavras mais dignas para descrever o que foi toda aquela sensação,
tenho certeza que será perca de tempo, não existe um verbo, um
termo ou um adjetivo para exatificar uma descrição cabível àquele
espetáculo (estou arrepiada só ao lembrar).
Assim como na sequência
do álbum, veio
The
Happiest Day Of Our Lives e em seguida a aclamada Another Brick In
The Wall, pt. II, com o coro das 70 mil pessoas presentes, além do coral das crianças de um instituto da maior favela paulista, a
Heliópolis. Neste momento, um gigante boneco inflável de um
monstruoso professor, representando a opressão das escolas e da
metodologia de ensino, que vale ressaltar, aqui no Brasil é digna de
vergonha; se move pelo canto direito do palco, enchendo olhos e
ouvidos de admiração.
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Durante a música "Another Brick in the Wall, pt. II |
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Fear Builds Walls (o medo constrói
paredes), era a frase estampada na camiseta das crianças ao palco.
Roger
dá uma pausa para conversar com o público, com um discurso ensaiado
em português, fala sobre a injustiça opressora no mundo, sobre as
vítimas e guerra inocentes, sobre famílias corrompidas, infâncias
ceifadas, sobre a crueldade existente aos menos favorecidos, tudo
isso resumido em imagens que passavam no enorme muro, ele inclusive
falou da injustiça que o mineiro Jean Charles de Menezes sofreu na
Inglaterra, ao ser morto após ter sido confundido com um terrorista.
Envolto pela correia de
um violão, Roger Waters inicia Mother, e enquanto cantava a parte
”Mother, should I trust the government?” (Mãe, eu devo confiar
no governo?) no muro era projetado a frase NEM FUDENDO.
Em
Good Bye Blue Sky,
outra música emocional, com seu cunho de protesto, o público
avistou no muro a projeção de aviões soltando ao invés de bombas,
símbolos como cruzes cristãs, a estrela judaica, logomarcas de
empresas multinacionais como McDonald's, Shell, Mercedez, dentre
outras petrolíferas, empresas essas que sabemos bem, contribuem para
o crescimento do mercado capitalista, explorações da natureza,
infligindo leis ambientais sem grandes punições.
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Durante "Good Bye Blue Sky" |
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Neste momento, o que
parecia ser até então somente o seguimento da linha ideológica
deste conceitual álbum do Pink Floyd, é mostrada a visão de Roger
Waters sobre o mundo em que vivemos, sobre os efeitos que o dinheiro,
o poder e as guerras têm sobre a nossa humanidade. Assistir a isso
tudo diante dos olhos, é como levar um tapa na cara de mãos atadas,
um incentivo à revolta individual dos presentes que entenderam o
real significado das mensagens.
Enquanto víamos
diversos fatos, diversas imagens históricas projetadas no imenso
muro, tijolos iam se erguendo e fechando-o, até a entrada de
Goodbye
Cruel World, última faixa do primeiro disco, deste álbum duplo.
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Antes do intervalo, final da canção "Goodbye Cruel World". |
Após
um intervalo de 20 minutos, tempo este em que refleti particularmente
sobre tudo o que foi mostrado até então, a primeira música do
Disco 2, Hey You, inicia-se, seguida de Is There Anybody Out There? e
Nobody Home. Mais duas músicas e chega finalmente a vez de
Confortably Numb, em que o público cantou junto efusiva e
emocionalmente. Durante a Run Like Hell, um javali inflável enorme é
dirigida ao público, com frases escritas à serem vistas por todo o
estádio “BRASIL É LAICO” de um lado, e “O NOVO CÓDIGO
FLORESTAL VAI MATAR O BRASIL” de outro.
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Javali já esvaziado pela platéia. |
Para
os desinformado, o novo código florestal foi criado para favorecer
os maiores fazendeiros e latifundiários das terras brasileiras, que
em suas terras há grande parte das florestas preservadas pelo IBAMA,
nascentes de rios, mata atlântica e pantanal, até então defendidas
e intocadas pelo órgão responsável por sua conservação. Este
javali, antes mesmo de chegar à metade da pista, foi massacrado e se
esvaziou.
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Roger Waters vestido com representativo uniforme emblemático. |
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Projeções no muro ainda intacto. |
Enquanto
isso a banda tocava a frente do muro, até o início de Tear Down The
Wall (derrubem o muro), em que ele vem abaixo junto com The Trial. Na
última música do segundo álbum, Outside the Wall, Waters e banda
vêm à frente dos destroços para finalizar a apresentação.
Agradecendo ao público depois dessas mais de 2 horas de show, a
plateia numa mescla de cansaço, euforia, extase e exaustão, se
retiram das pistas e arquibancadas desta apresentação que não
houve pedido de bis, e neste momento é que ouvimos diversos
comentários dos mais fãs aos nem tanto, das constatações, e das
comparações com o seu show anterior “The Dark Side of The Moon”
aqui no Brasil em 2007.
Essa
apresentação, este espetáculo fantástico, sem dúvida ficará
marcado na memória de todos aqueles que tiveram o privilégio de
presenciar tal evento.
Um
sonho realizado aos fãs de Pink Floyd e do multitalentoso músico
Roger Waters.
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Final do show, banda em agradecimento, destroços do muro ao fundo. |
Banda:
Roger Waters – vocal, baixo, violão,
trompete
Robbie Wyckoff – vocal
Graham Broad – bateria,
percussão
Dave Kilmister – guitarra, banjo
G.E. Smith –
guitarra, baixo, bandolim
Snowy White – guitarra
Jon Carin –
teclado, violão, guitarra
Harry Waters – órgão, teclado
Jon
Joyce – backing vocals
Kipp Lennon – backing vocals
Mark
Lennon – backing vocals
Pat Lennon – backing vocals
Set List:
PRIMEIRA PARTE
1 – “In the Flesh?”
2 – “The Thin
Ice”
3 – “Another Brick in the Wall – parte 1″
4 –
“The Happiest Days of Our Lives”
5 – “Another Brick in the
Wall – parte 2″
6 – “Mother”
7 – “Goodbye Blue
Sky”
8 – “Empty Spaces”
9 – “What Shall We Do
Now?”
10 – “Young Lust”
11 – “One of My Turns”
12
– “Don’t Leave Me Now”
13 – “Another Brick in the Wall
– parte 3″
14 – “The Last Few Bricks”
15 – “Goodbye
Cruel World”
SEGUNDA PARTE
16 – “Hey You”
17 – “Is There Anybody
Out There?”
18 – “Nobody Home”
19 – “Vera”
20
– “Bring the Boys Back Home”
21 – “Comfortably Numb”
22
– “The Show Must Go On”
23 – “In the Flesh”
24 –
“Run Like Hell”
25 – “Waiting for the Worms”
26 –
“Stop”
27 – “The Trial”
28 – “Outside the Wall”
Imagens por Wagner Pinheiro.