A resposta pode estar no fato de que as memórias musicais são armazenadas em partes diferentes do cérebro que a de outras memórias.
O maestro britânico Clive Wearing, sete meses antes do acidente (Foto: Arquivo de família) |
Embora apresentasse um dos casos mais graves de amnésia conhecido pelos cientistas, a habilidade musical do condutor permaneceu intacta.
Em 2005, um violoncelista (conhecido como PM) que contraiu a mesma doença foi estudado por cientistas num congresso da Sociedade para a Neurociência. Incapaz de recordar as imagens mais simples, PM manteve intacta a sua memória musical.
Segundo o médico que estudou o paciente, Carsten Finke, do Hospital Universitário de Charite, em Berlim, o lobo temporal médio do cérebro, severamente afetado em casos de encefalite por herpes, é "altamente relevante" para a memória de eventos e como, onde e quando eles ocorrem. Entretanto, o médico acredita que são necessárias novas pesquisas para confirmar a hipótese.
O caso levou a equipe a sugerir que as estruturas do cérebro usadas para armazenar memória musical "devem ser o giro temporal superior ou os lobos frontais. O que é realmente novo nesses casos é que mesmo em casos de amnésia densa e grave ainda existem ilhas de memória intactas, a memória musical", afirmou.
A neuropsicóloga Clare Ramsden ressalta que a memória musical é diferente dos outros tipos de memória. "Não é apenas conhecimento, é algo que você faz", define.
A sua entidade, Brain Injures Rehabilitation, voltada para a reabilitação cerebral, concluiu que as atividades musicais envolvem diferentes partes do cérebro. Hoje com 73 anos, Wearing consegue ler partitura e tocar música no piano, e chegou inclusive a reger seu antigo coral.
A esposa de Clive, Deborah, é autora de um livro, “Forever Today” que relata como a vida do casal mudou desde a amnésia do marido. "Mesmo tendo um piano no quarto há 26 anos, ele não sabe disso até que o instrumento seja mostrado para ele", contou Deborah à BBC.
Entretanto, diz, "se você der para ele uma música nova, a visão dele percebe a partitura e ele toca a música no piano, mas sem aprendê-la. Clive não sabe que tocava piano, nem que ainda sabe como tocar."
A esposa diz que, mesmo sem saber, o ex-maestro melhora sua apresentação cada vez que toca uma determinada música, e que ele ainda é capaz de tocar, instintivamente, canções que sabia de cor no passado. "Ele aprendeu 'Messias' de Haendel quando era criança e ainda sabe cantá-la."
Deborah diz que a música "é o único lugar onde podemos estar juntos, porque enquanto a música está tocando ele é completamente si mesmo. Quando a música para, ele volta a cair do abismo. Não sabe nada sobre sua vida. Não sabe nada do que aconteceu com ele em toda sua vida."
Curioso e intrigante, não? A conclusão que chegamos é que a música exerce no individuo um poder único, uma linguagem universal, e movido por instintos e dons musicais, nenhuma perda de memória permanente extrai da mente as melodias, notas e até mesmo as letras das músicas.
Relatos de parentes de outras pessoas que não são musicistas, mas que tiveram a mesma doença, afirmam que o paciente consegue identificar uma música e cantá-la na íntegra, e que esta é a única maneira que elas encontram de se comunicar com o mundo. Isso mostra a importância que a música exerce sobre as nossas vidas.
Fonte: G1
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